Em 2008,, em busca de crescimento através da pesquisa de textos, linguagens e estratégias cênicas, nascia o Grupo de Pesquisa Teatral Nós em Cena, que, percorreu várias cidades de nossa região apresentando contações de histórias e ministrando oficinas. No ano seguinte, certos de estarmos no caminho correto, nos instalamos em Rio Negrinho como Cia Teatral Nós em Cena com o objetivo de difundir o teatro enquanto objeto de arte e engrossar o caldo da produção artística da região. A 1ª Mostra Nossa de Teatro, realizada em 2011, é resultado dessa nossa caminhada, trazendo ao público nossos principais espetáculos de repertório, bem como espetáculos dos nossos alunos do Curso de Teatro Nós em Cena e de companhias de teatro convidadas, as quais cruzaram nosso caminho e ajudaram, de algum modo, a escrever nossa história.


domingo, 11 de dezembro de 2011

Passarópolis


SINOPSE
 Fugindo de seus credores, dois homens compram um pássaro que os levará ao reino das aves. A ordem que lá existia é tumultuada com a chegada dos dois, que sugerem mudanças radicais na estrutura daquele espaço. Em um mundo onde todos querem ter vantagens, a lábia é a melhor arma. Nem mesmo os deuses do Olimpo estarão a salvo das trapalhadas causadas pela ambição de homens e aves. 
  

SOBRE O PROCESSO “PASSARÓPOLIS”
A idéia de encenar uma comédia, após tantos espetáculos densos como “Os Camaradas”, “A Parte Doente”, “Renato, o Menino que Era Rato” e “Volúpia”, mescla desejo e desafio a perseguir os integrantes da companhia.
No último semestre de 2009, o tema de estudo na Carona Escola de Teatro foi o teatro grego. Além de inspirar os alunos, os próprios professores da Escola sentiram-se contagiados com as comédias do mestre Aristófanes (447 a.C.). Acabaram convencidos de que encenar uma de suas obras na rua poderia resultar numa pesquisa interessante. A idéia virou projeto. “Palavras Aladas – Um Vôo em As Aves, de Aristófanes” foi inscrito e premiado no Edital FUNARTE Artes Cênicas na Rua 2009.Além de custear boa parte da montagem, o projeto incluiu uma ida à capital argentina, em El Astrolabio Teatro, sede da Periplo, Compañia Teatral, onde durante 10 dias os dois grupos trabalharam num processo que serviu de pontapé inicial para a criação do espetáculo.
“Julgo ser de extrema importância iniciar um processo onde não se venha com as respostas prontas e seguir por um caminho onde não se sabe o que vai encontrar. Para iniciar um novo aprendizado, com qualidade, é preciso que o ator tenha a coragem de se entregar ao “vazio”, e isso ocorre com os atores da Cia Carona. Além disso, o atual estado de maturidade da Cia Carona colabora muito, pois seus integrantes estão predispostos a transpirar criação e a ouvir o outro, quer seja o colega de trabalho, a direção, a dramaturgia e todos os outros elementos que constituem uma grupalidade”, diz Diego Cazabat, diretor da Periplo Compañia Teatral.
Voltar a trabalhar com o grupo argentino foi um grande impulso para retomar a pesquisa sobre o ofício do ator e sobre elementos específicos da atuação voltada à  comédia.
Além deste encontro, o projeto também trouxe a Blumenau dois dos atores-pesquisadores do LUME Teatro, da Unicamp-SP. Jesser de Souza trabalhou em dois momentos com a Cia Carona sobre o tema “O Ator Cômico na Rua”. Trabalhos sobre a percepção corpórea de si e do outro agora incluíram novos elementos, como o passante, o movimento contínuo da rua, a concentração nesse ambiente de dispersão, entre outros.
"Participar do Projeto Passarópolis só fez crescer a admiração e o respeito que já  nutria pela Cia. Carona, por seu trabalho rigoroso, meticuloso e refinado; por sua coragem em levar aos palcos encenações com propostas ousadas e necessárias; pela reflexão crítica e sensível traduzidas artisticamente de forma poética e contundente em seus espetáculos e, acima de tudo pelos parceiros muito queridos de longa data, cujo trabalho acompanho com carinho e apreço”, diz Jesser de Souza, ator-pesquisador do LUME Teatro, da Unicamp-SP. Já Carlos Simioni, também ator-pesquisador do LUME Teatro, da Unicamp-SP, trouxe seu conhecimento sobre técnica vocal num trabalho específico chamado “A Voz do Ator na Rua”. “Tive uma grata surpresa neste trabalho com a Cia Carona. Encontrei atores bem preparados, sérios, e com muito respeito pelo trabalho e com seu fazer teatral”, diz o ator, fundador do Lume. Para Pépe Sedrez, diretor da Cia Carona de Teatro, a oportunidade de voltar a encontrar-se com Lume e Periplo, as maiores referências na trajetória da Cia, por si só já são motivos de grande satisfação. “Não é fácil realizar encontros com profissionais tão reconhecidos no cenário teatral e com tamanha identificação com o trabalho da Carona.” Os encontros, para o diretor, não poderiam ter sido melhores. Passarópolis agradece.

SOBRE A DRAMATURGIA
Na opinião de Gregory Haertel, “trabalhar com a Cia Carona tem sido tentar criar, a partir de um coletivo, de uma família com idéias e vontades diferentes, uma única voz.” Em ‘Passarópolis’, ao se iniciar este processo, o que se ouvia com maior intensidade era o desejo pela comédia com uma incisiva crítica política.
“Somente a presença física nos ensaios e a proximidade com os integrantes da Cia Carona é que permite que este trabalho se dê assim, um interferindo no outro, porém sem que cada um tenha o seu espaço invadido”, acrescenta o dramaturgo. 
A adaptação propõe  a identificação do espectador com as aves através da incitação política questionando o quanto nós, espectadores, assim como as aves da peça, nos deixamos levar por promessas de uma felicidade que talvez nem nos faça falta e, pior, o quanto nos calamos diante de todos os ‘horrores’ e ‘maldades’ feitos em nome desta ‘felicidade’.  
Tanto no reino dos homens (o início da peça, que não existe no texto original), quanto no reino das aves, o que vemos são figuras que tentam ‘passar a perna’ umas nas outras em busca de vantagens, na maior parte das vezes, financeiras. 
Passarópolis, mais do que uma peça sobre um homem que ilude as aves e se torna rei entre elas, é sobre estas aves que, por se calarem, permitem que um homem reine sobre elas em seu próprio benefício.

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